Redação do Enem aborda manipulação de usuários da internet

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2018) é “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”. A prova teve quatro textos motivadores, sendo que três deles são trechos de reportagens e um trouxe um gráfico com dados.

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Duas das três reportagens citam diretamente os algoritmos e foram publicados em 2016. Um deles, “O gosto na era do algoritmo”, foi publicado em 2016 pelo jornal “El País” e escrito pelo jornalista Daniel Verdú. O outro, chamado “A silenciosa ditadura do algoritmo”, é de autoria do jornalista brasileiro Pepe Escobar.

A terceira reportagem, também de 2016, foi publicada pela BBC Future. De autoria de Tom Chatfield, o texto chama “Como a internet influencia secretamente nossas escolhas”. O gráfico que aparece na prova de redação é um organograma de dados produzido pelo IBGE com o perfil dos usuários de internet no Brasil em 2016, com detalhes sobre o uso da internet entre homens e mulheres.

Para professores, tema é atual e não surpreende
Para comentar o tema da redação, o G1 consultou diversos professores de redação e uum especialista em tecnologia:


Ana Paula Severiano, professora do Colégio Stockler
Altieres Rohr, colunista de tecnologia do G1
Anibal Telles, professor de redação do Curso Anglo
Carol Achutti, professora de redação do Descomplica
Juliana Oliveira, do COC Atibaia
Maria Catarina Rabelo Bozio, coordenadora de redação do Colégio Poliedro
Tatiana Camara Nunes, do Colégio Mopi
Thiago Braga, professor e autor de redação do Sistema de Ensino pH
Viviani Xanthakos, professora do laboratório de redação do Objetivo
Professor ouvidos pelo G1 consideram o tema atual e mais específico que em anos anteriores, assim como aconteceu no Enem 2017. “Nos anos anteriores foram mais gerais, no ano passado foi bem mais pontual, específico. Nesse ano não chegou à especificidade do ano passado”, explicou Viviani Xanthakos, professora do laboratório de redação do Objetivo, de São Paulo.

Thiago Braga, professor e autor de redação do Sistema de Ensino pH, no Rio de Janeiro, afirmou que o tema não é um dos mais simples para os estudantes. “A princípio não me parece um tema fácil porque possibilita uma série de leituras, pode levar o aluno para uma direção diferente do que a banca quer”, afirmou ele.

“É voltado para o comportamento, não parece ligado a política, mas sim mais ligado a costumes. Depende de qual direção vai dar, dos textos dados de apoio”, diz Thiago Braga
Já para Juliana Oliveira, professora do COC Atibaia, o tema da redação era esperado, pois está presente no cotidiano de todos. “Como se trata de um tema amplo, caberá ao aluno delimitar o tema a partir dos textos bases propostos pelo Enem, e a partir dos textos, desenvolver a proposta de intervenção.”

Chave está nos algoritmos
Para o colunista de tecnologia do G1, o tema é importante para o público jovem que está indo para as universidades.

“Se eles não têm noção de como a ferramenta que eles usam determina o que eles vão ver, podem estudar e ver as coisas de uma forma tendenciosa”, afirma.
Para Rohr, um dos pontos mais importantes a serem explorados é que não se sabe, exatamente, como os algoritmos de sites como Facebook, Twitter e Instagram funcionam. Eles também contribuem para que as pessoas se mantenham em bolhas de posições políticas, embora o Facebook venha tentando combater essa tendência, segundo Rohr.

Que temas podem ser abordados?
Segundo Braga, vários assuntos podem ser abordados. “Os alunos podem falar sobre privacidade, sobre como hoje ela não existe mais”, disse ele. “Se você está na internet os seus dados são utilizados para que você seja conhecido e seja conduzido a determinado tipo de comportamento. isso pode ser problematico porque as pessoas acabam perdendo [a privacidade].”

A professora do COC Atibaia, Juliana Oliveira, disse que o tema era esperado porque está presente no cotidiano de todas as pessoas. “Como se trata de um tema amplo, caberá ao aluno delimitá-lo partir dos textos bases propostos pelo Enem, e a partir dos textos, desenvolver a proposta de intervenção”, disse.

O Inep ainda não divulgou quais foram os textos de apoio.

“É um tema discutido em sala porque já tivemos várias aulas sobre ‘big data'”, diz Anibal Telles, do curso Anglo. “Mas, sem os textos de apoio fica difícil sermos detalhistas.”

Já a professora Maria Catarina diz que, “para que o aluno garanta uma nota elevada, é importante que ele trabalhe as quatro palavras centrais da frase tema: manipulação, comportamento, usuário e internet”.

O tema tem a ver com ‘notícias falsas’?
Para Braga, do pH, o tema não tem relação direta com as notícias falsas, mas sim com a manipulação de dados dos usuários. “Acredito que não esteja ligado diretamente à política, mas a como o comportamento do usuário da internet pode ser manipulado por meio de acesso aos dados dele”, disse ao G1.

Ele diz que o aluno deve ficar atento para não fugir da proposta da redação.


“A princípio não me parece um tema fácil porque possibilita uma série de leituras que pode levar o aluno a uma direção diferente do que a banca quer. Por isso é importante saber quais os textos de apoio que foram apresentados, para termos uma direção do que foi pedido”, afirmou Braga.
Para a professora Ana Paula Severiano, do Colégio Stockler, ao contrário do tema de 2017, o deste ano não surpreende. “O contexto mundial e, em especial, o brasileiro anunciava uma reflexão a respeito da informação que circula na internet e dos impactos que a manipulação desses dados têm na sociedade.”

Segundo ela, tema semelhante já apareceu em outros vestibulares deste ano, como o da Santa Casa de Medicina de São Paulo, e também da Unesp e da Unicamp, em processos anteriores.

Para a professora Viviani Xanthakos, do laboratório de redação do Objetivo, o tema não surpreendeu, já que uma das principais apostas para o tema da redação do Enem 2018 eram as notícias falsas. Porém, a abordagem escolhida pelo Inep foi mais específica, falando diretamente sobre uma das questões envolvendo as notícias falsas, que é o armazenamento de dados dos internautas pelas empresas.

Segundo Carol Achutti, professora de redação do Descomplica, “o aluno precisa ficar atento a alguns pontos: não se restringir a falar apenas de ‘fake news’, não se limitar a fatos que ocorreram no Brasil e não se posicionar de maneira radical”. Ela afirma que “esse é um assunto que te leva a tratar o marketing dirigido e sobre como disponibilizamos informações nas redes sociais. O aluno pode levantar discussões sobre o Marco Civil da internet que prevê um ambiente de privacidade, neutro e de liberdade de expressão”.


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