Às 10h da manhã de sexta, Taylane Pontes, 25 anos, subia às pressas a ladeira de paralelepípedos com crateras abertas pela chuva. Corria, trêmula, para o local onde dois prédios haviam desabado por volta das 6h30, na comunidade da Muzema, onde mora, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio.

“Meu tio mora no prédio”, explicou a garçonete, atravessando de chinelos uma pinguela que cobria um dos pontos onde os alagamentos do início da semana ainda não retrocederam, resquícios das chuvas que foram inclementes no bairro.

Dez minutos ladeira acima, chegou ao local dos desabamentos. Já não era possível se aproximar dos prédios. Bombeiros e agentes da Defesa Civil interditaram a área e trabalhavam com urgência, porém cuidado, para buscar moradores sob os escombros.

Até a noite de sexta-feira, o Corpo de Bombeiros do Rio havia confirmado sete mortes, e 13 pessoas estavam desaparecidas.

Para cada apartamento dos dois prédios de cinco andares que ruíram, havia diversos familiares e amigos do lado de fora do cordão de isolamento, aguardando notícias dos seus.

No caso de Taylane, a busca era por seu tio, Raimundo Nonato do Nascimento, de 40 anos; sua esposa, Paloma; e seus quatro filhos, Lauane, Isaac, Rafael e Pedro Lucas, com idades de 3 a 15 anos.

Já na chegada, Taylane se chocou com a notícia do tio morto. Ele teria sido resgatado na primeira leva de vítimas salvas por moradores, levado para um hospital, mas não resistiu. Foram as informações que Alan Santana, sobrinho de Paloma, recebera mais cedo.

“Quando cheguei já tinham levado ele. Ele chegou no hospital já sem vida. As crianças e a Paloma ainda estão soterradas”, contou Alan pela manhã, quando Taylane chegou.

Mas não era bem assim. Logo ficou claro que a vítima em questão não era Raimundo Nonato. Com informações desencontradas que viriam a marcar o resto do dia, abriu-se novamente a esperança. Taylane se manteve unida à família – a mãe, Edna, sua irmã, seus primos, sua tia, o marido da tia… A família toda estava lá, e se mobilizou ao longo de todo o dia para saber dos parentes vitimados pelo soterramento.

Cearense, Raimundo Nonato fazia transporte de van, mas vendera o automóvel como parte das economias para sair do aluguel.

“Ele vendeu a vanzinha dele, deu de entrada no apartamento e conseguiu comprar”, conta Taylane.

Começou a trabalhar como motorista de aplicativo para deixar para trás o transporte irregular – uma das fontes de renda de milícias no Rio que, segundo a prefeitura, dominam a comunidade da Muzema.

Dois Raimundos
Por volta do meio dia, Edna Pontes, irmã de Raimundo Nonato, deu um grito de alegria que reverberou no meio da multidão que aguardava próximo aos escombros.

Levantou as mãos para o alto em comemoração, levando os muitos jornalistas no local a se aglomerarem a seu redor atrás de uma rara boa notícia.

“Nos informaram que ele estava vivo. Todos nós demos gritos de alegria. Mas, pouco depois, falaram que não era ele”, conta Taylane.

Fonte: G1 CE

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