Catorze anos separam Gisele Almodóvar, que subiu ao trio neste domingo (30), na XX Parada pela Diversidade, em Fortaleza, da primeira vez de Silvero Pereira no evento, anteriormente conhecido como Parada Gay. Travestido da personagem, ele vê na festa algo além: “uma forma de dizer às pessoas sobre a nossa existência e da nossa resistência em uma sociedade preconceituosa e opressora”, além de destacar o “respeito às gerações que lutaram pelos direitos hoje adquiridos e as que estão por vir”.

“É (preciso) respeitar as gerações passadas, que lutaram para que a gente tivesse esses direitos de hoje, e aí nós temos uma responsabilidade, enquanto geração, para as próximas terem que lutar por outras coisas, que não serão essas pelas quais a gente está lutando agora”, explica Silvero.

Para ele, o respeito pelas gerações passadas e a luta pelas futuras ecoa a cada Parada pela Diversidade. “É o que fica para mim todas as vezes que penso na Parada”, diz, detalhando que o peso do reconhecimento nacional tem seu impacto. “Pelo fato de ser daqui, sabe? Você subir em um trio, em uma Parada na sua cidade, cantando para as pessoas e com elas te olhando ali em cima, aí eu acho que é o máximo da representatividade”, frisa.

Mulher Barbada e Gisele Almodóvar se apresentam na Parada pela Diversidade.

Coletivo As Travestidas
O espetáculo levado à Parada pela Diversidade é um dos produtos do vasto portfólio do Coletivo As Travestidas. Ao lado da Mulher Barbada, Gisele Almodóvar apresentou o Bloco das Travestidas, com um repertório que passeava entre a alegria e o orgulho de ser quem é e a dor da resistência. Para a Mulher Barbada, o que a separa de sua primeira vez na Parada – um ano antes de entrar para o Coletivo – é também a responsabilidade.

“Na minha primeira parada eu tinha ido mais para me divertir e foi muito importante que, agora, ali, naquele palco, eu tenha uma responsabilidade não só de animar as pessoas, mas uma responsabilidade social. A gente está ali como exemplo. Lá embaixo eu não tinha dimensão disso”, explica a Mulher Barbada.

Ela destaca que o mundo vivencia uma onda conservadora há bastante tempo, mas que figuras que representam esse conservadorismo nunca tiveram tanta força. “Para a gente não é nada novo. Temos receio do que está por vir, mas os últimos sete anos que trilhamos nos prepararam para este momento. Estamos cada vez mais entendendo quais são os nossos lugares de força. Quanto mais essa repressão for pesada, mais faremos força contrária”, explica.


Produção
As lembranças dos outros anos são pinçadas durante o processo de produção da Mulher Barbada e de Gisele Almodóvar. São pelo menos duas horas e meia entre montagem do visual, aquecimento vocal e últimos acertos em relação ao repertório musical, conforme acompanhou o G1. Com muito critério, preferem ficar responsáveis pela própria maquiagem.

“O espetáculo começa aqui”, diz Silvero Pereira, cujas mãos, entre pincéis e pinturas, constroem Gisele. Mas o rigor com a aparência não é a única razão para maquiar a si mesmo. “É um ritual. A gente vai vendo a personagem sendo criada. Quando alguém faz a nossa maquiagem, é um susto, porque você não vê o processo”, afirma.

Sobre o prazer e a dificuldade de terem essa responsabilidade, Silvero Pereira e Mulher Barbada lembram dos aprendizados com outras drags, inclusive em tutoriais na internet, e frisam que há uma lacuna no mercado da maquiagem quando o assunto são produtos voltados para quem trabalha com a arte drag. “Acho que falta o mercado investir em produtos voltados para isso, e aí a gente precisa ficar adaptando itens que são voltados para mulheres”, explica.

           



‘Pink Money’
Ao passo que o mercado dos produtos cosméticos demora a perceber o potencial de consumo da comunidade LGBTQI+, outros segmentos se preparam para abarcar esse público. O ‘Pink Money’, ou dinheiro rosa, é o nome dado ao montante movimentado mundialmente pelo consumo LGBTQI+.

Para Silvero Pereira, é interessante perceber que as marcas estão cada vez mais atentas à comunidade e criado estratégias, produtos e serviços para atender a essa demanda. Mulher Barbada, por sua vez, lembra que “não adianta criar oferta para atender à comunidade sem praticar o respeito ao público LGBTQI+ dentro das empresas”.

“Existe empresa que faz coleções com as cores da Parada, mas que quase não contrata funcionários LGBTQI+, então há ‘Pink Moneys’ e ‘Pink Moneys'”, arremata.

                








Fonte: G1 CE



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