Emissão de CNHs tem queda de 9,28% no Ceará em três anos

Menos condutores com permissão para dirigir veículos ou pilotar motocicletas. Cenário que começou a ser desenhado nos últimos três anos, quando o volume anual de emissões da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) caiu de forma gradativa no Ceará. Se no primeiro semestre de 2017 foram expedidos 272.048 documentos, e em igual período de 2018 o número decresceu para 257.951, até junho deste ano houve somente 246.788 solicitações finalizadas.

A redução de 9,28% no triênio, mensurada a partir de dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI), é reflexo da expansão das ações de mobilidade urbana, sobretudo em Fortaleza. Conforme sugere o diretor de Habilitação do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Mário Freire, a oferta de ônibus, somada ao crescimento do serviço de corridas por aplicativos e o alto custo do processo para expedir a habilitação culminaram neste resultado.

“Nós conseguimos aferir que está acontecendo uma mudança cultural. Com o surgimentos dos aplicativos de transporte e a melhoria do transporte urbano, realmente houve uma redução do sonho de obter a CNH. Aliado a isso, tem a crise econômica. Hoje, para você tirar uma CNH custa em torno de R$ 1.500, além da manutenção e dos impostos do veículo”, considera.

De acordo com a Secretaria da Conservação e Serviços Públicos (SCSP), a Capital possui 111,4 quilômetros de faixas exclusivas de ônibus. A Pasta municipal aponta que o fluxo reservado apenas para transportes coletivos provocou o aumento da velocidade operacional durante as viagens, reduziu o consumo de combustíveis e o impacto na emissão de gases poluentes.

Celeridade
Dessa forma, importantes corredores comerciais tiveram melhoria com tal implementação. Na Avenida Santos Dumont, por exemplo, o ganho de agilidade foi de 207%, enquanto na Dom Luís a marca ficou em 143%. Já na Rua General Sampaio e na Avenida Bezerra de Menezes, os veículos passaram a trafegar 108% e 91% mais rápidos, respectivamente. “Isso representa menos tempo de deslocamento trabalho-casa ou vice-versa”, defende a SCSP.

Contudo, na avaliação do professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mário Azevedo, somente essas mudanças ainda não são suficientes para que os usuários desistam de emitir a CNH. “Eu não sei se o transporte público tem esse poder de atrair. Tem todas essas melhorias, mas eu acho que ainda não é o motivo principal para as pessoas deixarem de tirar a carteira”.

Isso porque, segundo o especialista, o sistema de ônibus possui gargalos históricos, como a superlotação de passageiros. “Está melhorando, não resta dúvidas, mas há problemas. As linhas que atendem os bairros mais distantes já saem lotadas e ficam assim em grande parte do trajeto”, justifica. As respostas para a menor procura pelo documento de habilitação são difíceis de encontrar, uma vez que “nós não temos nenhuma pesquisa de opinião que possa explicar de forma mais concreta essa redução”, complementa o professor universitário.

O diretor jurídico do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores de Veículos do Estado do Ceará (SINDCFCS-CE), Alisson Maia, constata que, de fato, “há um certo desinteresse”, principalmente entre os mais jovens, em buscar a emissão da CNH. A defasagem do público repercutiu no fechamento de três autoescolas entre 2018 e este ano, restando outras 397 empresas conveniadas à entidade.

Ele argumenta que a redução poderia ser evitada caso houvesse mais operações de fiscalização de trânsito. “A ausência dessas fiscalizações faz com que as pessoas andem sem habilitação. Se houvesse uma atenção mais rigorosa, os motoristas iriam atrás do documento. Muita gente conduz carro e moto, mas não se regulariza porque não há esse controle constante nas vias”, argumenta Alisson Maia.

No caso do estudante Douglas Sales, 21, dirigir nunca esteve nos seus planos. Há dois anos, quando atingiu a maioridade, os pais o pressionaram para que ele procurasse uma autoescola, mas a insistência, que perdura até hoje, não o fez mudar de ideia. “Eles dizem que a CNH não é simplesmente um documento, porque vai facilitar minha vida em questão de emprego. Porém, até agora, não tive essa necessidade. Quando tiver, eu vou atrás”, justifica.

Enquanto isso, para chegar à universidade, ao local do estágio ou a qualquer outro compromisso, ele utiliza diariamente do serviço de transporte por aplicativo. “Qualquer movimentação que preciso fazer pela cidade, uso Uber ou 99 Pop. Não me sinto seguro em andar de ônibus, e é bem mais rápido e econômico pagar a corrida com um motorista”, explica o estudante de Comunicação Social, que faz questão de enfatizar: “Não quero ter carteira, porque para mim é um estresse estacionar. Essa é uma preocupação que eu não tenho como passageiro”, finaliza.

Fonte: Diário do Nordeste

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