Filho de Jamile diz que foi induzido a mentir em depoimento

“Fico lembrando dela dirigindo, dela nesse sofá aqui, a gente abraçado. Eu sinto um vazio enorme no meu coração. Perdi meu pai com 12 anos e agora, com 14, a minha mãe”. As recordações do adolescente, único filho da empresária cearense Jamile de Oliveira Correia, incluem saudade, mas vão além. A lembrança da mãe está diretamente ligada à vontade de que a Justiça seja feita.

Jamile morreu há quase um mês, precisamente na manhã do dia 31 de agosto de 2019. A morte foi em decorrência de um tiro que atingiu o peito da empresária. O caso foi tratado como suicídio por poucos dias, até que em 2 de setembro a Polícia Civil do Ceará passou a investigar a ocorrência. Após a abertura do inquérito, Aldemir Pessoa Júnior, advogado e namorado da empresária, passou a ser considerado o suspeito de ter atirado.

O disparo aconteceu no começo da madrugada do dia 29 de agosto, dentro do closet da vítima. Naquele instante estavam no apartamento Jamile, Aldemir e o jovem de 14 anos. Na tarde de ontem, o adolescente concedeu entrevista exclusiva ao Sistema Verdes Mares sobre o que aconteceu nos últimos momentos que conviveu com a mãe e com Aldemir Júnior. Segundo ele, a relação entre o casal vinha se mostrando abusiva, e nos últimos minutos do dia 29 de agosto, não foi diferente.

“Ela disse que levou uma queda. Chegou em casa com o olho muito inchado. Pouco tempo depois o Aldemir chegou todo eufórico. Parecia estar assustado e um pouco nervoso. Ele foi pegar gelo e tentou colocar, ela dizia que não queria que ele chegasse perto dela. Depois de um tempo ela se trancou no closet, o Aldemir ficava pedindo para ela abrir e nada. Ele foi no meu quarto pedir para eu ajudar e quando fui lá ela abriu. O olho dela estava arregalado. Ele entrou e ficou perguntando cadê a arma. Eu não sabia que tinha arma aqui em casa. Ele achou uma arma e colocou na mesa da televisão do quarto deles. Aí perguntou cadê a outra arma e ela disse que estava onde ficam os lençóis ou que também estava na televisão. Ele saiu e ela bateu a porta do closet. Quando ele voltou ficou batendo. Ouvi o barulho. Voltei lá e entrei no closet”, recordou o menino.

Conforme o filho da vítima, no momento que ele entrou no closet, de relance, o menino conta ter visto uma arma de cor prata. Ele não consegue dizer quem deles dois segurava o objeto. Menos de um minuto depois, o disparo aconteceu. “Não consegui ver nada porque eu estava atrás dele e ele é muito alto”.

TRAGÉDIA
O menino conta que ele e Aldemir Pessoa Júnior carregaram Jamile baleada até o Instituto Doutor José Frota (IJF). O menino lembra que carregou Jamile pelos braços sem ajuda imediata por parte do advogado. O comportamento estranho do homem teria continuado quando eles chegaram ao IJF e se repetido nos dias seguintes que eles continuaram convivendo.

Ao saber que a Polícia Civil investigava o acontecido, o suspeito teria pedido ao enteado que ele mentisse para as autoridades. O adolescente afirma que, de início, concordou com a versão relatada por Aldemir, e dias depois percebeu que tinha sido persuadido.

“Ele disse: ‘tu vai falar o que eu vou te falar agora porque essa delegada é chata, extremamente arrogante e pode até me acusar de ter matado tua mãe’. Eu fiz o que ele mandou. Eu tinha afeto por ele. Às vezes ele me tratava bem e às vezes ele me tratava mal. Eu não consegui associar direito as coisas, não consegui raciocinar na hora”, disse a testemunha.

Agora, para o adolescente, está nítido que a mãe foi vítima de um assassinato. Ainda segundo o menino, o machucado visto por ele no rosto da mãe, também foi de responsabilidade do advogado. A Polícia Civil chegou a pedir a prisão temporária de Aldemir Pessoa Júnior alegando que solto ele vinha interferindo nas investigações. A Justiça negou o pedido por entender que a incompatibilidade das versões não era suficiente para manter o suspeito sob custódia.

A reportagem entrou em contato com a defesa do suspeito, que preferiu não se posicionar sobre a entrevista do filho de Jamile antes de analisar o conteúdo dito pelo menino. O caso permanece sob investigação e o inquérito tem prazo para ser finalizado no próximo dia 2 de outubro.

(Diário do Nordeste)

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