“Vamos transformar o cartão em dinheiro, senhora?”. A proposta feita no grito e acompanhada de um folheto se repete nas abordagens dos inúmeros vendedores espalhados pelo Centro da Cidade. Uma circunstância que mostra o crescimento do mercado de crédito. No Ceará, dívidas com financiamentos nas instituições financeiras integrantes do Sistema Financeiro Nacional (SNF) cresceram 14,4% em dezembro de 2019 ante igual mês em 2018.

O valor contratado por pessoas físicas em bancos privados, públicos e cooperativas escalou dos R$ 40,2 milhões para R$ 46 milhões, conforme levantamento realizado pelo O POVO, com dados do Banco Central do Brasil (BC). Os números consolidados correspondem a aproximadamente 94% da carteira das empresas. Entram no bojo: empréstimo, financiamento, adiantamento e arrendamentos mercantil (quando uma empresa cede um bem de maneira temporária a um cliente). Não há, porém, o percentual de cada modalidade e o perfil dos contratantes.

Os estímulos para adquirir o serviço vêm de todos os lugares, das ruas – como no exemplo citado no início -, aos bancos. Mas o que tem puxado esse aumento? Para Silvana Parente, vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon), os principais fatores são o desemprego, a diminuição da renda e a influência para o consumo exagerado no fim de ano.

“A população já vem se endividando há algum tempo em razão desse cenário de uma economia estagnada. O que ocorre é que muita gente usa um empréstimo para pagar outro com juros mais altos”, aponta. Ela pondera que os números não necessariamente são negativos. Isso porque, para alguns, o recurso pode ser usado para produzir mais e conseguir pagar em dia. Outro motivo que pode ser levado em conta é a redução dos juros. Atualmente, a Taxa Selic está em 4,25% ao ano, percentual mais baixo desde o início de série histórica em 1986. O que viabiliza parcelas menores.

No entanto, destaca Wilton Daher, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), o consumidor precisa ter cautela antes de contratar esse serviços. Além disso, deve-se ficar atento para se precaver de fraudes. “É imprescindível criar uma cultura de educação financeira. As pessoas saberem o que fazer com o dinheiro que ganham e quanto podem gastar”, frisa.

Segundo levantamento pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), aproximadamente 61 milhões de brasileiros começaram 2020 com alguma conta em atraso e com o CPF restrito para contratar crédito ou fazer compras parceladas.

Empresa
Já o volume de empréstimos para empresas teve recuo de 1,2%, saindo dos R$ 31 milhões para os R$ 30 milhões no Ceará, em 2019.

O motorista Ednaldo Doudement, 52, sabe bem dos riscos ao orçamento familiar que um empréstimo pode trazer e as dificuldades para pagá-lo. “A última vez que peguei dinheiro emprestado faz uns três anos. Foi para me livrar de outra dívida mais alta e precisei passar dois anos pagando as parcelas”, relata, destacando que a experiência o fez ter mais consciência financeira para evitar repeti-la.


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