Um método usado para análise de DNA identificou no Ceará uma nova configuração de sangue raro. De acordo com o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), responsável pela descoberta, a configuração sanguínea é a única registrada até agora no Brasil. Com essa identificação, é possível salvar vida de pacientes que precisam de tipos sanguíneos raros, conforme o Hemoce.

Para Denise Brunetta, hematologista e coordenadora do laboratório de imunohematologia do Hemoce, a descoberta é uma adição para a doação de sangue. “Contribui para que mais pacientes sejam atendidos. Se eu tenho um paciente que necessita de um tipo de sangue raro e eu não tenho um doador compatível, essa pessoa não vai poder realizar cirurgia, não vai poder receber sangue, ou algum tratamento médico”, explica Denise.

Atualmente, 115 pessoas com sangue raros estão cadastrados no Ceará. Ana Martins Pires, de 47 anos, foi classificada como doadora de sangue especial em 2017. “Eu fiquei muito feliz. Eu me senti muito bem”, reflete. O comunicado veio após uma doação comum, três anos atrás. “Um mês e meio após uma doação, o Hemoce entrou em contato comigo para me avisar que eu era doadora especial”, relembra Ana.

A partir daí, ela foi adicionada ao Banco de Doadores Raros do estado. “O Hemoce já veio me buscar no trabalho para doar. Eu vou, largo tudo, porque para mim é um prazer muito grande saber que eu estou ajudando pessoas que precisam do meu sangue”, completa.

Em 2017, o mecânico cearense José Ewerton Ribeiro, também portador de sangue raro, salvou um bebê na Colômbia. A paciente era uma menina de um ano e dois meses que apresentava sangramento digestivo grave e precisava de transfusão urgente.

Identificação
A técnica que identificou o sangue único, conhecida como genotipagem, é usada no estado desde 2019. Ela analisa o material genético de amostras de sangue de doadores voluntários. O órgão aguarda confirmação do caso para comunicar ao doador. No Brasil, é considerado sangue raro um tipo sanguíneo que aparece na proporção de um caso para mil pessoas.

A procura por doadores raros é um processo diário. Além da recém-chegada genotipagem, o Hemoce utiliza outras duas técnicas para triagem de doadores especiais, uma a partir da análise de anticorpos e outra a partir de glóbulos vermelhos, conhecido como fenotipagem eritrocitária.

O Centro analisa as amostras recebidas diariamente em busca de características especiais. Após a identificação, o doador é contatado pelo órgão. “Nós informamos ao voluntário que ele possui um sangue raro. Ele passa por uma palestra formativa e é adicionado ao Banco de Doadores Raros”, completa Denise.

Existe um perfil com maior probabilidade de apresentar a configuração especial no sangue. “A gente seleciona o voluntário que tenha doado, pelo menos, duas vezes no ano. Avaliamos aqueles que já sabemos que tem fenótipo raro ou algum doador do grupo de sangue O”, completa.

Atualmente, o Banco de Doadores Raros do Hemoce é um dos maiores do Brasil e conta, desde a sua criação, em 2014, com 115 voluntários especiais em todo o território cearense, dois descobertos após o uso da tecnologia de genotipagem. Graças ao serviço, o Hemoce já enviou 15 bolsas de sangue raro para outros estados brasileiros e uma para Colômbia. Todas as unidades do órgão possuem bolsas de sangue raro em estoque.

Os selecionados como doador especial têm uma frequência de doação menor do que voluntários comuns. “Como é preciso esperar entre uma doação e outra, corre o risco do doador raro já ter doado para uma pessoa que não precisa daquele tipo de sangue e diminuir a oferta do material. Eles são convocados a doar somente quando um paciente necessita de doação especial”, explica Denise.

(G1 CE)

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