Natural de Quixeramobim, interior do Ceará localizado a 211 quilômetros de Fortaleza, o cientista Darlan da Silva Candido, de 28 anos, integra o grupo de pesquisadores que analisou o sequenciamento do genoma do novo coronavírus em 48 horas no Brasil, divulgado na última sexta-feira (28).

A equipe responsável envolve também pesquisadores do Instituto Adolpho Lutz (IAL) e do Instituto de Medicina Tropical (IMT-USP), em São Paulo, além da colaboração da Universidade de Oxford, no Reino Unido, onde o cearense faz doutorado atualmente.

Darlan estudou em escolas do interior, até o terceiro ano do ensino médio, quando conseguiu passar no vestibular para cursar Farmácia na Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, aos 17 anos. Depois, em 2011, o estudante ingressou em um intercâmbio nos Estados Unidos, por meio do extinto programa federal Ciências Sem Fronteiras.

“Na Faculdade de Farmácia, eu já trabalhava com atenção farmacêutica a pacientes com doenças de chagas. Logo consegui um estágio no Centro de Formação das Doenças Negligenciadas (nome em português), na Universidade da Califórnia, em São Francisco (EUA)”, relata.

Inicialmente, conforme o pesquisador, os planos eram ficar em São Francisco por seis meses. Contudo, logo depois do primeiro mês, “me ofereceram uma extensão da bolsa do programa Ciência Sem Fronteiras para eu ficar lá e terminar o meu projeto. Depois disso, voltei ao Brasil no final de 2013 e terminei a graduação na UFC”. Foram 16 meses de intercâmbio, de 2012 a dezembro de 2013.

Já em 2017, no Brasil, o cientista conta que foi o único latino-americano a ganhar a bolsa mais prestigiada de Oxford, que apenas 120 pessoas foram premiadas. “Fui para Oxfor e acabei encontrando o Nuno (Nuno Farias, pesquisador natural de Portugal, referência mundial em doenças infecciosas de origem tropical) que é meu orientador nesta parte chamada de epidemiologia genômica, essa parte de sequenciamento de vírus diante de surtos epidêmicos. Foi assim, também, que conheci os pesquisadores de São Paulo”, relata.

O Brasil foi um dos países a sequenciar mais rapidamente o genoma do novo coronavírus em um paciente internado na capital paulista. O estudo foi divulgado em tempo recorde, 48 horas após o primeiro caso confirmado no país, na última quarta-feira (26). Apesar de integrar a equipe responsável pelo feito, o cearense explica que não teve uma participação mais direta no sequenciamento porque não estava em São Paulo.

“As pesquisadoras fizeram a parte laboratorial lá (em SP), mas existem análises que a gente faz depois que o resultado da parte laboratorial sai. Essas análises são feitas em Oxford. Eu entro nessa segunda parte”, diz.

Mais especificamente, Darlan esclarece que “a gente faz as análise do sequenciamento”. “Devido aos casos de coronavírus e sabendo que, em algum momento, ia chegar no Brasil, a gente já estava se preparando para responder a essa possível epidemia. Oxford mandou os regentes para o grupo em São Paulo para fazer o sequenciamento porque já trabalhamos com eles há muito tempo”.

Pesquisadores do Nordeste
Parceira de Darlan durante a pesquisa e filha de piauienses, a pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Flávia Cristina da Silva Sales, também colaborou com o sequenciamento do coronavírus. “Levamos o sequenciador vindo de Oxford pro pessoal do IAL, para eles aprenderem a manusear e utilizá-lo na questão da saúde pública”.

“A importância desse sequenciamento rápido é que a gente produz o dado, entende como esse novo vírus se comporta e o Governo consegue fazer a vigilância epidemiológica e assim tentar conter uma possível epidemia”, pondera.

(G1 CE)


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